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Propostas de Reencantamento

SESC Birigui - SP I 23 de novembro de 2024 a 27 de abril de 2025. I Curadoria: Aldones Nino

A exposição Propostas de Reencantamento, de Marcela Cantuária, convida o público a mergulhar em um universo visual onde o político e o místico se entrelaçam como forças indissociáveis. Com curadoria de Aldones Nino e composta por 27 obras, a mostra oferece um percurso imagético potente, que reconfigura o lugar da pintura no campo das lutas contemporâneas, especialmente aquelas protagonizadas por mulheres.

Marcela propõe um reordenamento simbólico do mundo a partir da arte. Utilizando a pintura como meio de resistência, memória e afeto, a artista carioca constrói narrativas que enfrentam o apagamento histórico de personagens femininas, indígenas, negras e populares, reposicionando suas presenças no centro das imagens. Seus trabalhos operam como dispositivos de visibilidade e reparação: são atos poéticos e políticos que confrontam a hegemonia patriarcal, racista e capitalista que estrutura a sociedade.
 

O título da exposição parte da obra Uma Proposta para o Reencantamento (2022), de 2x6 metros em que figuras como Nise da Silveira, Marielle Franco e Dilma Rousseff se reúnem ao redor de uma fogueira. Em um gesto onírico e ritualístico, Marcela invoca essas mulheres como guardiãs de uma outra história — uma história que pulsa resistência, sensibilidade e imaginação. No mesmo quadro, outras mulheres aparecem de costas para o espectador. Elas são aquelas que ainda estão por vir — mulheres do presente e do futuro —, entre as quais podem estar as próprias espectadoras da obra, convocadas a se reconhecer nessa roda de afeto, insurgência e transformação.

Cortesia: SESC Birigui

Foto: Ronaldo Gomes. Cortesia: SESC Birigui

Marcela Cantuária - Cajuína Cristalina - 2021 - foto Vicente de Mello. - VDM_2807 CROP.jpg

Outro eixo pulsante da exposição é composto pela série Oráculo Urutu (2019–2021), pinturas que embaralham o real e o simbólico, entrecruzando referências da cultura popular — do cinema à música, da literatura às novelas — com signos do misticismo e da espiritualidade ancestral. O resultado é um campo visual em onde a memória cultural brasileira se projeta como ritual e resistência. A artista tensiona o presente com uma poética que se recusa ao desencanto. Contra a aridez do mundo tecnocrático, suas imagens dançam entre o sonho e a insurgência, entre o gesto pictórico e o feitiço político. São visões em que o passado ressurge como força motriz para reencantar o agora — não como fuga, mas como possibilidade de reimaginar a vida em comum.

São composições densas, que exigem do olhar um tempo dilatado — um olhar que escute, que sinta, que traduza aos poucos o entrelaçamento de gestos, símbolos e narrativas. E é nesse campo vibrante entre o gesto pictórico e o feitiço político que a artista formula uma estética de reencantamento: uma arte que não apenas denuncia, mas também aponta caminhos

Fotos: Vicente de Mello

Foto: Ronaldo Gomes. Cortesia: SESC Birigui

Os Oratórios que integram a exposição são santuários reimaginados, onde o sagrado não é mais aquele da liturgia dita "oficial", mas o das vidas que desafiaram o curso dominante da história. Aqui, a artista desvia da tradição religiosa para consagrar outras figuras não mais beatificadas, mas as insurgentes. Essas peças não são meros suportes devocionais: são gestos de afirmação e reverência àquelas que romperam silêncios e forjaram novos caminhos. Marcela opera um deslocamento simbólico, fazendo do oratório um artefato político e sensível, onde memória, mística e militância se entrelaçam. Ao enraizar a crítica na iconografia da fé popular, a artista evoca uma espiritualidade da luta — não pacificadora, mas transformadora, que pulsa em cada detalhe e desafia a passividade do espectador.

A Partenogênese

Técnica mista

50 x 54,3 x 12,5 cm (aberto) / 50 x 27 x 12,5 cm (fechado) 2023

 

Foto: Vicente de Mello

Foto: Ronaldo Gomes. Cortesia: SESC Birigui

Ao longo da exposição, a artista reafirma a pintura como estratégia política e sensível, como linguagem que permite revisitar traumas coletivos e imaginar futuros outros. Seu gesto criativo — profundamente conectado à terra, aos corpos e às histórias silenciadas — desafia os limites impostos por uma modernidade excludente, e aponta para um horizonte em que o encantamento é, acima de tudo, um ato de insurgência.

A Arte é uma forma de sonhar e de acreditar em um mundo melhor

Marcela Cantuária

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