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Marcela Cantuária - Transmutação alquimia e resistência - Paço Imperial RJ - 2024 - foto V

Como uma sibila de nosso tempo, a pintura de Marcela Cantuária abre frestas que direcionam a visão ao mundo incorpóreo, onde cada uma das composições pode ser encarada como proposta de reencantamento do presente, em um momento em que o real não dá mais conta da potência criativa que emana dos sonhos e desejos coletivos sufocados em meio à precarização. Nesse contexto, Cantuária desenvolve biombos que se ancoram em elaborações imagéticas das ideias de nação e poder, partindo de uma metodologia compositiva fronteiriça, uma ordem alternativa formulada em imagens de outras possibilidades de reordenamento social e místico. Rompendo os limites do que existe, germinam assim novas formas de ser, agir e estar no mundo.

Texto do curador Aldones Nino

 

Like a sibyl of our time, Marcela Cantuária's painting opens gaps that direct the vision to the incorporeal world, where each of the compositions can be seen as a proposal for the re-enchantment of the present, at a time when the real is no longer able to handle the power creative that emanates from collective dreams and desires suffocated in the midst of precariousness. In this context, Cantuária paints double-sided canvas panels that are anchored in imagery elaborations of the ideas of nation and power, starting from a borderline compositional methodology, an alternative order formulated in images of other possibilities of social and mystical reordering. By breaking the limits of what exists, new ways of being, acting and being in the world germinate.

Text by Aldones Nino, curator

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Las Brujas

Óleo sobre biombo

180 x 200 cm

2024

Las Brujas mergulha nas sombras da resistência feminina, trazendo à luz a coragem e o legado das guerrilheiras do Araguaia. De um lado do biombo, sete mariposas dançam na escuridão, representando Helenira Resende de Souza Nazareth, Lúcia Maria de Sousa, Dinaelza Santana Coqueiro, Heleny Telles Ferreira Guariba, Maria Augusta Thomaz, Aurora do Nascimento e Jane Vanini. Cada uma dessas mulheres, como mariposas, simboliza a transformação radical imposta pela luta a metamorfose de quem, ao desafiar o regime, se reinventa e ressurge. São figuras de resistência, cujos rostos, imortalizados, não se apagam, mas se perpetuam como símbolos de uma força invisível, porém imensurável.

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No verso do biombo, surgem lobos como presença silenciosa - predadores noturnos que observam à distância. Sua natureza selvagem evoca a vigilância constante, o perigo à espreita, mas também a astúcia e a paciência da resistência. Como sombras em movimento, representam a ameaça iminente, mas também a capacidade de adaptação e reconfiguração. A luta, como os lobos, não se manifesta de forma abrupta, mas existe em silêncio, pronta para emergir quando menos se espera.

As folhas centrais do biombo “Bruxas” nos oferecem retratos de três célebres Guerrilheiras do Araguaia: Nas asas acobreadas ao topo, vemos a líder estudantil Helenira Resende de Souza Nazareth, militante do Partido Comunista do Brasil e parte do destacamento A da Guerrilha, que assume seu nome após sua morte. Na mariposa azulada logo abaixo, emerge a fisionomia de Lúcia Maria de Sousa, conhecida pelo codinome Sônia. Sua emboscada durante a Operação Marajoara (terceira e definitiva ofensiva militar contra os guerrilheiros) é um dos episódios mais célebres do movimento, já que quando capturada e questionada sobre sua identidade, responde: “Guerrilheira não tem nome (...) eu luto pela liberdade!”. À sua direita, a mariposa de asas alaranjadas e negras revela Dinaelza Santana Coqueiro, integrante do comitê estudantil do Partido Comunista do Brasil e posteriormente do Destacamento C da Guerrilha, onde atuava sob o codinome Dina.  

 

As folhas laterais conjugam protagonistas que compartilham os ideais destas ao centro, mas que aliaram-se a outros movimentos de luta contra à Ditadura, reverberando a pluralidade de iniciativas de resistência historicamente empreendidas no Brasil. Não à toa, no alto da folha lateral esquerda vemos o perfil de Heleny Telles Ferreira Guariba, dramaturga que teve seu trabalho interrompido pelo AI-5 e se junta à militância na Vanguarda Popular Revolucionária. Nesta mesma folha, mais abaixo, o rosto azulado que emerge sobre estas asas rubras é o de Maria Augusta Thomaz, universitária e militante do Movimento de Libertação Popular (MOLIPO). Na folha lateral direita, novamente no topo, vemos Aurora do Nascimento, integrante do movimento estudantil e da Ação Libertadora Nacional (ALN), onde esteve à frente da publicação do jornal Ação. Mais abaixo, entre escamas de asa azuis e laranjas, emerge a face de Jane Vanini, também militante da ALN e peça fundamental na fundação do MOLIPO que aderiu, mais tarde, à guerrilha na cidade de Araguaína, Goiás. 


 

- Ana Clara Simões Lopes

Boca da Noite - Vistas da exposição - Cortesia Cerrado Galeria (1)_edited.jpg
Marcela Cantúaria - A paixão de dizer - 2022 - foto Vicente de Mello.VDM_1724.jpg
Marcela Cantúaria - A paixão de dizer - 2022 - foto Vicente de Mello.VDM_1580.jpg
Marcela Cantuária - A Grande Benéfica - 2021 - Foto Vicente de Mello - VDM_9674.jpg
Marcela Cantuária - A Grande Benéfica - 2021 - Foto Vicente de Mello - VDM_9705.jpg

A paixão de dizer

​Técnica Mista

180 x 200 cm

2022

A grande benéfica

Óleo e acrílica sobre biombo de mdf  

180 x 180 cm

2021

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