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Curadoria Aldones Nino e Andressa Rocha
Paço Imperial
Rio de Janeiro, Brasil 
2024

 

Marcela Cantuária, ao unir pintura e alquimia em sua prática artística, posiciona-se como uma sibila de nossos tempos, trazendo à luz, por meio de suas obras, narrativas obliteradas da história social. O compromisso com metodologias feministas é um mote reflexivo unificador em seu diversificado corpo de trabalho, o qual aborda questões urgentes no intuito de construir uma estrutura-memória, uma dialética do ver. Cantuária tensiona, por meio da fabulação crítica, os arquivos que a historiografia oficial muitas vezes tentou esconder ou apagar. O processo de reconhecimento da fabulação caracteriza, em sua pesquisa, uma tentativa de enfrentamento ao memoricídio e às suas diferentes formas de violência epistêmica e imagética.

Marcela Cantuária - Transmutação alquimia e resistência - Paço Imperial RJ - 2024 - foto V

Sua produção, imbuída de simbolismo e intencionalidade, remete à prática da alquimia não apenas pela transformação de materiais — que se estende além dos tradicionais pigmentos, pincéis e telas para incluir madeira e cerâmica —, mas também em sua busca constante por saberes e narrativas circunscritos à margem da retórica hegemônica, na exploração do potencial humano e na revelação de outras histórias. Tais trabalhos mergulham profundamente na realidade latino-americana, discutindo e salientando questões sociais e políticas. Se o cânone é uma condição estrutural da história da arte, Cantuária subverte tal aparato colonial e patriarcal em 1° Salão Latino-Americano y Caribeño de Artes / Salão de Mulheres (depois de Willem van Haetch), obra que evidencia como artistas mulheres desafiaram, de diferentes modos e continuamente, o domínio masculino na arte e na sociedade e as expectativas sobre a feminilidade. 

Marcela Cantuária - Transmutação alquimia e resistência - Paço Imperial RJ - 2024 - foto V

O autorretrato da artista, presente em A grande benéfica, evidencia sua estratégia de questionar e encenar junto aos espectadores as possibilidades de representação de sua identidade: enquanto ela apresenta um olhar combativo e direto em uma das faces do biombo, na outra observamos Cantuária em uma posição celebratória, em uma espécie de comunhão com o espaço onde se encontra. A composição elaborada especialmente para o biombo, tendo em vista o jogo duplo de representação, parte de uma metodologia fronteiriça, uma ordem alternativa formulada por meio de um vocabulário plástico-formal que expande os limites dos meios artísticos.

Marcela Cantuária - Transmutação alquimia e resistência - Paço Imperial RJ - 2024 - foto V

Por meio de sua pintura, ela efetua uma peculiar transmutação alquímica: a do despertar da consciência e do ativismo político-social. Sua produção, nesse sentido, é um veículo de interrogação e confronto com as normas estabelecidas, desafiando as estruturas de poder existentes e promovendo uma reconfiguração crítica da percepção social. Por conseguinte, Cantuária não se limita a pintar; ela conjura, engajando-se diariamente em uma prática que se assemelha à magia, capaz de remodelar a realidade, redefinir narrativas e transformar perspectivas. Como uma alquimista contemporânea, Cantuária cria telas que agem como um encantamento, um chamado à reflexão e à transformação. O que ela propõe é uma reinvenção constante da criação artística, estabelecendo conexões entre múltiplas temporalidades.

Marcela Cantuária - Transmutação alquimia e resistência - Paço Imperial RJ - 2024 - foto V

Aldones Nino & Andressa Rocha
Marcela Cantuária - Transmutation: alchemy and resistence

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