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Curadoria Raquel Barreto

A Gentil Carioca | São Paulo, Brasil 2023

 

Há incontáveis formas de definir o que é arte e até mesmo a impossibilidade de defini-la pode ser tomada como uma definição. Há uma certeza: a arte é uma possibilidade de expressão de individualidade e singularidade. Em Ocultas Marés, Ana Silva & Marcela Cantuária disputam, com suas poéticas e proposições, significados (possíveis) para arte, ampliando imaginários e suportes materiais, explodindo cores e formas. Estabelecem também diálogos com a história da arte, relações entre o passado e o presente e, às vezes, imaginam futuros de modo revolucionário.

O título da exposição nomeia os mundos interiores aquosos e particulares em afluência que habitam em Ana & Marcela – fluídos e profundos; serenos e tempestuosos; germinadores e desoladores - permitindo as artistas elevarem até a superfície por meio de suas criações formas autorais de existir no mundo, conceber arte, e manter, ao mesmo tempo, suas individualidades. Há também diferenças encarnadas nos universos poéticos e estéticos próprios e inconfundíveis que as distanciam, sobretudo nos procedimentos formais empregados, mantendo, contudo, um repertório visual e simbólico atravessado por uma perspectiva política crítica e uma reflexividade ativa sobre o feminino e as incontáveis concepções de ser mulher.

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Ana Silva é artista visual e poeta nascida em Angola, que vive entre Portugal e Angola, e esta é a sua primeira exibição no Brasil. Suas obras transitam pela pintura, bordado, costura, fotografias, esculturas e máscaras, empregando em seus trabalhos madeiras, tecidos. A artista utiliza também sacos plásticos como um gesto político para expor a questão do lixo produzido na Europa, descartado no continente africano como um despejo colonial.

Marcela Cantuária, artista visual carioca com uma produção bastante consolidada, articula um imaginário político dissidente centrado em personagens históricas reais incorporadas de encantamento e magia, o que a notabilizou concedendo um lugar de destaque na cena contemporânea. Nesta exposição, porém, a artista segue outros rumos e apresenta obras inéditas que pensam com e a partir de figuras mitológicas que pertencem a um mundo onírico de movimentos e cores (característica indelével da artista que possui uma assinatura pessoal no uso das paletas de cores e nas motivações, marcando intensidades e sombras com beleza e alegria).

Para esta exposição, Ana & Marcela elaboraram juntas a obra: Ângela Gomes, a rainha do Rosário, inspirada na história real de uma sacerdotisa africana que viveu em Minas Gerais no período colonial, acusada de feitiçaria ao mesmo tempo que pertencia à uma irmandade católica. As artistas partiram da sona, desenhos matemáticos africanos, para bordar a estampa do vestido feito por Ana, que depois foi pintada no quadro por Marcela para representar Ângela. O resultado desses trabalhos reflete um diálogo entre as estéticas e os procedimentos singulares das artistas e o somatório de suas poéticas para a criação da obra.

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